Ola amigos Trandeirenses,
Fomos brilhante e deslumbrantemente surpreendidos, na primeira reunião da nova Assembleia de Freguesia, com a apresentação de uma suposta carta anónima, que seria divulgada publicamente no decorrer da campanha eleitoral das últimas Autárquicas, não fossem os esforços e a pronta e eficaz intervenção, do actual Presidente da Junta. As consequências de tal situação seriam catastróficas para algumas associações da freguesia, com o aparecimento de cisões e problemas internos graves no seio dessas associações, tendo sido referidas, em especial duas, pelo supracitado presidente – os escuteiros e o clube desportivo. Confesso que não partilho desta opinião, mas deve ser por ser inexperiente nestes assuntos.
Em primeiro lugar, gostaria de iniciar as considerações sobre este assunto, referindo-me ao momento, oportunidade e modo de abordagem desta matéria. Como já foi narrado, a apresentação desta carta seguiu-se imediatamente a um discurso de união e apelo ao trabalho conjunto, pelo bem da freguesia, e em simultâneo com um auto-elogio do presidente à sua capacidade de intervenção e empenho em zelar pelo nobre e prioritário bem-estar dos habitantes e agremiações da freguesia. Sinceramente, não compreendo esta necessidade de vanglória e exaltação, naquele momento específico. Mas como disse, tal deve-se, sem dúvidas, à minha inexperiência. É importante, contudo, compreendemos o porquê de tal intervenção. Quais eram as intenções do presidente com esta apresentação? Qual o alcance deste acto? Estaria ele também a subscrever o texto? Ou estaria, ao invés, a condenar os seus conteúdos e a mostrar desagrado com a possível difusão de tal escrito? Tal não ficou claro, porque não houve tempo para mais explicações ou troca de ideias. E cá está outra questão que me parece, no mínimo, anti-democrática. Não bastava a inqualificável apresentação de uma carta anónima à Assembleia, como se esta fosse apanágio da verdade e virtude, mas não houve sequer oportunidade para os membros desse órgão poderem discutir ideias sobre a mesma, nem analisarem o seu conteúdo, numa atitude despótica.
Em seguida, e olhando à primeira vista para o texto, sobressai dele a ausência de um autor, bem como a sua má redacção. «
− Ora bem, eu tenho aqui um texto que nem sei quem o escreveu. O que é que vou fazer com ele? Pois claro, vou levá-lo à Assembleia de Freguesia e apresentá-lo!» É inconcebível, trazer à discussão um texto anónimo para um órgão tão respeitável como é (ou deveria ser) a Assembleia de Freguesia. Sobre textos anónimos não me quero alongar muito, mas creio ser importante referenciar a cobardia de tal acto, que revela a mesquinhez e desonestidade de quem o perpetrou. Quem produz um acto anónimo é alguém que gosta de agredir à traição e revela, clara e nitidamente, mau carácter.
Esmiuçando, agora, com mais cuidado, os conteúdos de tal texto, fico sem perceber bem quais eram, igualmente, os seus objectivos, uma vez que não fica claro quem são os visados pelas acusações, nem os propósitos de tal escrito, para além de conter um rol de inverdades, que atesta, uma vez mais, o mau carácter e a má fé de quem o redigiu. Chamo só a atenção para um pormenor: − trazendo agora a lume este episódio, não poderá ele, agora sim, despoletar um ambiente de crispação e dissidência entre os membros da Associação referida no texto? Porque me parece, claramente, que quem o escreveu é alguém ligado a esse movimento, quer pelo contexto em que está escrito, quer pela própria informação nele contido? O anonimato tem destas coisas, permite a especulação e a dúvida!
O texto começa com uma afirmação completamente verdadeira, que absolutamente subscrevo na íntegra: “
Caros eleitores todos devem estar com atenção aos programas apresentados pelos candidatos para a Junta e Assembleia da nossa Freguesia, ouvir, ler e ver a verdade de cada programa apresentado”. Sem dúvida verdade! O que me parece é que quem escreveu esta frase não segui, certamente, o seu próprio conselho, como terei oportunidade de demonstrar à frente e porque claramente, olhando para os projectos apresentados, restariam poucas dúvidas em relação à qualidade dos mesmos.
De seguida segue-se uma frase genérica que cita não se sabe quem: “
Dizer que a Junta de Freguesia não tem feito nada pelos movimentos da freguesia”. Que significado tem esta frase? Alguém disse? Quem disse, ou diz? Por certo não teria sido ninguém da lista concorrente pelo PS e, asseguro imperativamente, que ninguém da lista
Juntos por Braga sequer tenha pensado tal coisa, quanto mais dito em campanha.
E depois vem a frase mais enigmática do texto: “
Quem? Tem feito e prestado apoio aos movimentos?”. Quase que consigo sentir em mim o peso poético-filosófico da questão “
Quem?”. Afinal quem? Nota-se a preocupação e urgência na busca do autor pela figura, quiçá mitológica, do ser no qual ele centra a sua escrita. E depois a questão seguinte. Linda e extasiante, a ligação inspiradora e sublime da questão da identidade com a busca do saber se tem ou não prestado apoio aos movimentos. Ou então não é nada disto e deixei-me, novamente, levar pela minha inexperiência e o primeiro ponto de interrogação é um erro de escrita e deveria ler-se: “
Quem tem feito e prestado apoio aos movimentos?” Bem, sem dúvida que a Junta de Freguesia, os pais, os cidadãos anónimos, a própria Igreja, a comunidade… Todos estes e outros têm prestado apoio aos vários movimentos.
Segue-se depois um rol de questões retóricas, com várias confusões pelo meio e algumas inverdades. No geral, todas estas questões levam o leitor mais desatento a emocionar-se e sentir-se quase comovido como rol de acções de apoio referidos, sentindo-se até como que balançado a prostrar-se diante da entidade que presta os apoios e agradecer humilde e encarecidamente os favores que lhe estão a ser concedidos. Contudo, um olhar mais afastado e racional, detecta que as questões referidas nos apoios não são mais do que mera competência de qualquer Junta de Freguesia, de qualquer ponto do país. Diz a alínea l), do ponto 6, do artigo 34º, da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, no âmbito das Competências da Junta de Freguesia: “
Apoiar ou comparticipar, pelos meios adequados, no apoio a actividades de interesse da freguesia, de natureza social, cultural, educativa, desportiva, recreativa ou outra;”. Desta forma, é natural que a Junta de Freguesia preste apoio às associações existentes na freguesia, não estando a prestar qualquer favor especial a estas entidades ao fazê-lo.
Mas esmiucemos um pouco mais as questões presentes no texto. “
Os Escuteiros estão a ocupar um edifício, a quem pertence? Quem paga a água? Quem paga a luz?” Os Escuteiros estão de facto a ocupar três salas do edifício da Junta de Freguesia, autorizados por essa entidade. A luz e a água são pagas, ao que sei, pela Junta de Freguesia. Cá está uma questão interessante: Existe algum protocolo assinado entre as duas instituições que regulamente o uso das instalações e os direitos e deveres de cada um? A resposta é um rotundo NÃO! Mas deveria haver? Deveria! E isto para salvaguardar os interesses de ambas as partes e evitar que questões como estas fossem colocadas no futuro para fins pouco claros.
“
A quem pertence a carrinha que os escuteiros utilizam?” Creio falar-se aqui da carrinha propriedade da Junta de Freguesia que se diz estar ao serviço da comunidade. Portanto, preenchendo todos os requisitos necessários, não vejo o interesse de levantar esta questão. A carrinha pode ser utilizada por qualquer organismo da freguesia, desde que seguidos os procedimentos regulamentares, é para isso que ela existe.
Vem depois um conjunto de questões relacionadas com uma actividade específica realizada em 2003 pelos escuteiros.
“Quem deu o apoio e pagou todo o material utilizado para a construção do parque infantil e das tintas para o mural? Está esquecido o RoverWay 2003? Quem pagou as portas de ferro do barracão? Quem pagou e colocou a rede que está colocada na vedação do parque? Quem pagou toda a mão-de-obra da colocação do piso novo e colocação de dois novos aparelhos para as crianças?” Em 27 de Maio de 2002 foi assinado um protocolo entre o Agrupamento de Escuteiros e a Junta de Freguesia, no qual o órgão autárquico se comprometia a concretizar a referida obra, ou seja, a custear os equipamentos do parque infantil. Tudo perfeitamente legal, protocolado e dentro dos parâmetros normais de colaboração entre duas entidades. O piso novo, bem como a substituição de dois equipamentos, foram da iniciativa da Junta de Freguesia, que esteve muito bem nesse aspecto, mas que em nada envolveu o Agrupamento de Escuteiros. Todo este projecto, do qual saiu beneficiada, claramente, a freguesia é um exemplo de boa colaboração entre as entidades, embora se deva referir, clara e inequivocamente, que a iniciativa de construir ali um parque infantil (o único até hoje para uso público na freguesia) partiu do Agrupamento de Escuteiros e não da Junta de Freguesia.
Aparecem de seguida algumas questões relacionadas com uma actividade mais recente, que envolveu escuteiros e não escuteiros, falo da recuperação da torre na Poça da Bácora. “
Quem pagou e prestou apoio na recuperação da torre e jardim dos escuteiros na Poça da Bácora? A pintura da imagem e colocação?” Quem pagou a recuperação? O Agrupamento investiu na recuperação da torre cerca de 80 euros. Isto é um facto. Desconheço se a Junta custeou alguma coisa. A madeira foi oferecida por um amigo do Agrupamento. A mão-de-obra foi prestada por colaboradores, escuteiros e não escuteiros. A Junta de Freguesia ajudou? Naturalmente que sim. Mas não na medida em que as questões retóricas deixam transparecer.
No final desta série de questões retóricas, o autor deste texto indigna-se porque existe alguém e mais do que um pelos vistos, que não são explicitados nesta missiva, que falam que a Junta de Freguesia deveria dar um subsídio aos escuteiros. Mais uma vez se nota a utilização de uma expressão genérica atribuída não se sabe a quem. Devo dizer que é sem dúvida um estilo literário mordaz e incisivo, que coloca o leitor a tentar adivinhar de quem se trata. Eu, como sou muito inexperiente, não consigo adivinhar. Será que o artista queria fazer alguma alusão à lista
Juntos por Braga? O que posso e devo dizer é que ninguém da lista
Juntos por Braga reivindicou tal questão. Aliás, aqui está a prova de que o autor deste texto não seguiu o conselho por ele apresentado no início desta epistola e não leu devidamente o programa apresentado por esta lista, onde não consta nenhuma solicitação nesse sentido.
De seguida, assistimos a uma parte mais sentimental desta carta, onde o autor se torna mais intimista e se aproxima dos seus leitores. Quase que o sentimos aproximar-se de nós e gentilmente sussurrar palavras doces de elogio ao elenco da Junta de Freguesia e da própria Assembleia, conferindo um tom de experiência pessoal quando refere: “
…sempre nos atendeu e colaborou como presidente e amigo”. Chamo especial atenção para a forte ligação emocional revelada nesta pequena e singela frase, que parcialmente descobre um pouco da vida deste brilhante autor e nos faz querer que existe até uma relação de especial amizade entre os protagonistas. Confesso que tive de parar de ler a carta neste ponto, para limpar um cisco que se havia infiltrado no meu olho direito. Ou terá sido o esquerdo? Não importa, adiante.
Por fim, no epílogo desta composição poética, vem um conselho e um pedido especial aos membros das listas. O conselho para vermos e ouvirmos as palavras dos candidatos e dos seus programas. É um reforço do conselho inicial que revela a importância que esta questão dos programas assume para o autor – identificar o melhor programa, aquele que apresenta mais qualidade e mais inovação. É uma questão crucial, como se veio a revelar! E depois o pedido: “
…não se preocupem com os movimentos, não coloquem os escuteiros e a igreja em política…”. Cá está a traição de judas! O autor que se revelara amigo próximo, acaba a fazer uma crítica à lista do PS. Quer-se dizer, segundo o que eu interpreto, mas eu sou muito inexperiente. Mas só pode ser uma crítica directa a quem utiliza o lugar e a designação de “
Chefe do Agrupamento de Escuteiros” para se referir a um seu elemento, no manifesto eleitoral; a quem faz questão de salientar a ligação ao grupo coral e comissão fabriqueira da Igreja dos seus elementos; a quem utiliza fotografias do padre e da recuperação da residência paroquial na sua declaração eleitoral. Porque, por certo, não era para os elementos da lista
Juntos por Braga, que o autor falava, pois ao longo de toda a campanha a única preocupação desta lista foi desenvolver um projecto de qualidade, exequível e inovador e tratar de o promover, sem qualquer referência ou aproximação a qualquer grupo, entidade ou organismo.
Mas como referi no princípio, este é um texto enigmático e de difícil compreensão, pelo menos eu assumo que não tenho capacidade para atingir e perceber o alcance das palavras contidas nesta carta. E não consigo, igualmente, depreender qual foi o objectivo de apresentação desta missiva na Assembleia de Freguesia. Mas eu assumo, sou inexperiente e percebo pouco destas coisas.
Texto escrito por: Ricardo Lopes.
Subscrito por: Orlando Jorge Silva, António Miguel Ferreira, Nuno Viriato Carvalho e Rui Silva.
Juntos por Trandeiras.